sexta-feira, 31 de março de 2017

Poemas escolhidos de Ivo Pereira



A mão e a poesia


A mão que afaga
um livro
amacia o coração.
A mão que amacia
o coração
afaga a alma.
A mão que absorve a arte
abraça o mundo.
A mão 
que molda o mundo
recria o universo.


Escalas emocionais


Há em mim um violão
dolorido
vibrando cordas tensas
quando sente sua ausência,
a mesma ausência.
assimilada por Drummond.
Há um instrumento em mim
que pulsa,
reclama,
solitário,
mas é bom tocar pra você,
disse Caetano numa canção.
Há uma nota em mim
que me faz egoísta
quando amo a mim
na solidão das madrugadas
mais do que a você.
Há uma melodia
suave dentro de mim:
seu andar,
seus passos,
são acordes dissonantes
que quebram meu ritmo,
sua voz me faz falta,
mas não posso obrigá-la
a estar sempre perto
de meu confuso amor.
Há uma vibração em mim
que pede mais sol
em meu corpo frio.
Há um desejo em mim
que busca um sonho
do lado esquerdo do peito -
disse outro poeta -
pautado em notas ascendentes.
Há uma música em mim
que toca minha alma
e cai em si
quando você não ouve
as batidas aceleradas
do frágil coração
do velho poeta
quando te vê passar
com cabelos ao vento.


Sem título


Se eu tivesse que levar
Para uma ilha deserta
Quatro coisas eternas:
Levaria seus olhos verdes,
O sol sobre as montanhas,
Uma laelia purpurata
E um livro de Drummond,
Para que nas pedras,
Nas árvores e no tempo
Ficasse seguro gravado
O mais puro sentimento
De reter para a eternidade
O belo de todos os séculos.


Arraial do Tijuco


Por entre
Os caminhos de Minas
Passando pinguelas e rios
Subindo montanhas e serras
Moças belas nos casarios.

A brisa nos lampiões
Sereno pousando na terra
Fogueira branda no quintal
Serestas e violões
Nas noites do Arraial.

E Diamantina
Brilha
À luz da Estrela Guia,
Lua clara,
Noite vadia.

E a menina esconde,
Brilho do ouro
Diamante,
Pedra rara,
Fada brilhante.

A deusa musa guarda
No coração dos homens
A sina de ser
A pedra mais rara

Que brilha nesta canção.

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