sexta-feira, 31 de março de 2017

Outros poemas de Ivo Pereira



Toques


Elogiei seus cabelos sedosos
suas unhas bem feitas
esmalte discreto
belo pé
pequeno amuleto
higiene pessoal
perfeita
boca desejo
lábios grossos
grandes lábios
corpo delgado
vestido sensual
abaixo do joelho:
- Poxa, que coxa!
Segurei sua mão
delicadas mãos
cheiro bom de creme
pele macia
dedos longos e finos
de pianista
imensos olhos ovais de jabuticaba
adoro a fruta
chupo até o caroço
sorriso de gelar o olhar.
Toquei
sua alma,
mas não toquei seu sexo
e nem seu coração,
toquei
levemente sua face rosada,
mas não era amor.


 O uivo da loba


Vou ali assistir a lua
na imensa tela plana de Deus, 
nos olhos escuros da noite
de bonde com o infinito...
naquela noite silenciosa. 
no impressionante céu,
mesmo com neblina,
sereno e frio
sobre as montanhas
fiz amor com você
de madrugada
lá na caixa d'água
de Diamantina...
não estávamos sozinhos,
as estrelas piscavam pra gente
e a lua cheia,
grávida de poesia,
repleta de sentimento
iluminava nosso amor
e foi belo ouvir você
uivar pra lua
naquele momento.


 Minas, verde, pedra, poesia



Fazer amanhecer as manhãs em Minas
É abortar o canto dourado dos galos.
Mas a luz sozinha não tece a poesia
Da manhã rara das claras colinas.

Minas acorda cedo e faz amor com o sol,
Veste seu véu branco de virgem pura
E vai buscar no horizonte a sede de luz.

Minas não é pedra adormecida
No esquecimento da história.
É a prata dentro da pátria
Que independente busca vitória.

A Minas do poeta novo
É a mesma do mestre Rosa
Que sabe o segredo da roça
Sagarana pátria do povo.

O poeta é aquele silencioso sonhador
Que no seu sonho de silêncio
Aprofunda-se no silêncio de pensador.

Minas é obelisco sagrado
Que as tribos da terra
Louvam em secreta comunhão.

Minas é abismo profundo
Que o mineiro esconde calado
Por entre os vales do mundo.

Minas é Minas somente
Terra desconfiada de tudo
De tudo desconfiada da gente.
Pode não dizer a verdade,
Mas mentir ela não mente.

Minas é mato
Que o mineiro conhece bem
E que o vaqueiro espalha no pasto.

É preciso não ver só Minas
Porque além existem outras terras
E além de outras terras existe
Um regato profundo de poesia.

É preciso não ver só Minas
Nos versos soltos das rimas
Nas rimas soltas dos versos
Nos versos brancos das minas.

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