sexta-feira, 31 de março de 2017

Poemas de Ivo Pereira


Outra paixão
é a lua,
lua nua,
lua crua
que o poeta come todos os dias
como se fosse um queijo do Serro, 
delícia imaterial.
Olho a lua
e lembro-me da infância
quando falavam que São Jorge morava na lua 
e que lá existia um dragão,
eu olhava e não via São Jorge e nem o dragão, 
falaram que a lua era furada feito um queijo,
eu olhava e não via os furos da lua 
e nem o queijo
e todas as noites eu comia a lua 
com meus olhos de menino faminto.



“A beleza é breve”, 
dizem os japoneses
 
embaixo de suas árvores floridas de cerejeiras:
em março,
 
o inverno se vai
 
com o branco da neve e o frio.
 
A primavera chega,
 
dando cor
 
à paisagem do Japão,
em Diamantina entrelaçadas pelos granitos,
as quaresmeiras e os ipês
 
colorem a paisagem mineira.
Mas a beleza da cidade
 
está encravada nos olhos abismados do poeta,
o centro com seus amores
e os arredores com suas flores,
 
a beleza da musa dos diamantes
é permanente,
não existe brevidade
na beleza,
porque mesmo por um momento,
ela é eterna até mesmo em sua fragilidade.
Lá nas grimpas da poesia,
existe uma cidade delirantemente dos sonhos,
tão bela quanto Veneza,
só que em cima de um rio de pedra.
Quando vier a Diamantina,
venha em silêncio,
pois as fadas rondam os becos
em noite de frio
e os anjos
velam a cidade
com a luz da fascinação.


Luz difusa sobre a casa velha
abraçada por folhagem
 
num beco escuro
 
de uma cidade antiga.
A silhueta da lua na noite sombria,
refletida na parede corroída pelo tempo,
revela o casario que se desmancha com a história,
um vento fugidio
serpenteia entre os becos
 
passa velozmente seus dedos,
 
leves dedos de ladrão de cabelos.
 
A moça bonita balança os macios cabelos pretos
 
sob a sedução do vento,
 
aquele mesmo vento atrevido
 
que arrepiou a pele da moça bonita.
 
Morro de ciúmes do vento,
 
mas o vento não é tímido
 
feito o poeta que fica de longe
 
e deixa o vento abusar de suas musas.
 
Vento, desgraçado vento!


Pequenos gestos



Pra bom entendedor
aquele que entende a dor
meio verso basta
meia lua
inteira
meio sorriso
largo
moderato
meio olhar
de gelar a alma
um pingo no livro
é beijo.
O Ivo viu a uva
ovo
e uva boa.
A vida
é um desejo
poeta ri à toa.



Mago


 O ser mago
o ser amargo
a cegueira
o mago ser
o amargo ser
o ser tudo
o sal amargo
o amargo sal
sara o ego
o ego salva
Sara má, go!
O ser todo

Saramago.

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