quinta-feira, 15 de maio de 2014

Cinco poemas de Ivo Pereira do livro A cabeça fria do cometa azul (1980/1990)



Hino



cantar as catedrais
e badalar os sinos
as coisas naturais
desse chão
louvar os madrigais
nas ruas e os becos
serestas matinais
no sertão.

Minas,
Minas de pedras.
Minas,
das paisagens.
Minas,
montanhas e serras,
Minhas
Minas das terras.



Aldeias



levantar cedo
pegar estradas
ver as montanhas
ver as aldeias
ver cachoeiras
e te procurar.

Catar pedrinhas
roubar as flores
dormir na rede
curtir a sombra
matar a sede
e sonhar com você.




Milho verde



Igreja do Rosário
delicado cemitério
fascinante paisagem
a sombra do Itambé
arbusto rasteiro
mágico momento
lá no horizonte
a primeira estrela.
Lajeado vai pro mar
sempre-viva
sempre bela
sabiá canta a manhã
por do sol
abraça a vida.
Lá no céu
de muito longe
estrela cadente
grama verde
casa calhada
mãos sofridas
paredes de tabatinga
telhas antigas
um belo sonho
olhos de anjo
no silêncio profundo
encantado lugarejo.



Tarde



um menino em cima da árvore verde
solta o grito do esquecido tarzan
rumo à tarde quente do domingo oco
e para ante o eco mudo, seco e surdo.

O mormaço sobe do solo febril
e o tempo para assustado na solidão
ante às infinitas palavras tortas
que vêm ao poeta pobre de agosto.

As palavras se movimentam rumo ao vazio
e o som do silêncio se propaga no vácuo.
A alma do artista congela o medo do frio.

O tempo come o absurdo da fama
deixando os negativos do tempo
queimando na triste insensatez da lama.




Momento



olhos abismados
cara de anjo
tempo vadio
rua molhada
céu estrelado
pé na estrada
a namorada
a bela flor
verso alado
noite
vazio
cheiro de terra
grilos cantando
com a viola
leva contigo
o menino
tão pequenino
a chorar.


Fuga



a tarde cai
na varanda da casa
e fica no muro
quando chega a noite.

Morena pensa
no amor
na cidade
e vem o solução
quando o galo canta.

Chora triste
e lamenta o desejo,
pensa se existe
a sua canção,
se ama sozinha
na solidão.

Quem sabe
o segredo coração?
Quem sabe
os mistérios da ilusão?
É o seu frágil desejo.

Corujas tecem
seu anoitecer
enquanto o sono
vem buscar o sonho

da menina na varanda.

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