Sete poemas de Ivo
Pereira do livro Rabiscos marginais
Temporada
As montanhas
Ficaram vazias
Sem o olhar dos
horizontes.
Ouço suaves revoadas
Vindas lá dos montes.
De pássaros mudos
Antes presos em gaiolas
Absurdas
Sujas
Injustas.
Escuto batidas de asas
Aves agora serenas,
É tempo de democracia.
É a volta dos pombos:
Acabou a época de
caça.
Rascunho
Nas quatro paredes
Do meu quarto
Rabisco palavras
Em busca de frases
E paro ante a atrevida
E não convidada
interrogação:
Onde está a poesia
Que o poeta
Rabiscou na imaginação?
Retrato rasgado pelo
tempo
Rolinhas marrons e
tristes
Pousam nas laranjeiras
secas,
Árvores mortas
Comidas de outono,
Pássaros mudos,
Mesmo sufocando
O grito abafado de
medo,.
Cantam o choro do
amanhecer,
Numa manhã de
novembro,
Trazendo lembranças
De meu avô,
Ao meio do movimento
Revolucionário dos
pardais.
Fuga
Remanso do mar
Sobre o repouso
Sagrado da vida
Na represa da
escuridão.
A resina desse tédio
É a tarde de domingo
Que grita de dor na
solidão.
Iniciação
De que me adianta
Encantar
Com o perfume da flor
E a luz do luar,
Se esqueço do cravo
E da lua em mim
crescentes?
Do que me adianta
Escancarar as portas de
meu coração
Se não acho a
desgraçada
Que abriu as feridas de
minha paixão.
Do que me adianta
Escrever poemas
Solitários e medíocres
Se ninguém vão ler
Os desabafos noturnos
Perceber minhas mágoas
E nem sentir minha dor
Na famigerada solidão.
Versos livres
Rabiscos de letras,
Coisas embaralhadas,
Garatujas escritas,
Caminhos vagos
Espinhos e buracos,
Procurando o espaço
livre
Do branco azedo do
poema.
Esboços secos de
palavras,
Imagens duras,
Tema batido,
Rimas presas
Num esboço curto
De versos soltos.
Temporal
Vem o vento
Varando veloz
O tempo
E em mim
Esse vazio
Por dentro.
O vendaval
De incerteza
É o mensageiro
De tempestades
Solitárias.
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