quinta-feira, 15 de maio de 2014

Sete poemas de Ivo Pereira do livro Rabiscos marginais




Temporada


As montanhas
Ficaram vazias
Sem o olhar dos horizontes.
Ouço suaves revoadas
Vindas lá dos montes.
De pássaros mudos
Antes presos em gaiolas
Absurdas
Sujas
Injustas.
Escuto batidas de asas
Aves agora serenas,
É tempo de democracia.
É a volta dos pombos:
Acabou a época de caça.


Rascunho


Nas quatro paredes
Do meu quarto
Rabisco palavras
Em busca de frases
E paro ante a atrevida
E não convidada interrogação:
Onde está a poesia
Que o poeta
Rabiscou na imaginação?


Retrato rasgado pelo tempo


Rolinhas marrons e tristes
Pousam nas laranjeiras secas,
Árvores mortas
Comidas de outono,
Pássaros mudos,
Mesmo sufocando
O grito abafado de medo,.
Cantam o choro do amanhecer,
Numa manhã de novembro,
Trazendo lembranças
De meu avô,
Ao meio do movimento
Revolucionário dos pardais.


Fuga


Remanso do mar
Sobre o repouso
Sagrado da vida
Na represa da escuridão.
A resina desse tédio
É a tarde de domingo
Que grita de dor na solidão.


Iniciação


De que me adianta
Encantar
Com o perfume da flor
E a luz do luar,
Se esqueço do cravo
E da lua em mim crescentes?

Do que me adianta
Escancarar as portas de meu coração
Se não acho a desgraçada
Que abriu as feridas de minha paixão.

Do que me adianta
Escrever poemas
Solitários e medíocres
Se ninguém vão ler
Os desabafos noturnos
Perceber minhas mágoas
E nem sentir minha dor
Na famigerada solidão.


Versos livres


Rabiscos de letras,
Coisas embaralhadas,
Garatujas escritas,
Caminhos vagos
Espinhos e buracos,
Procurando o espaço livre
Do branco azedo do poema.
Esboços secos de palavras,
Imagens duras,
Tema batido,
Rimas presas
Num esboço curto
De versos soltos.


Temporal


Vem o vento
Varando veloz
O tempo
E em mim
Esse vazio
Por dentro.
O vendaval
De incerteza
É o mensageiro
De tempestades

Solitárias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário